sábado, julho 06, 2013

FESTIVAL DE ALMADA: I.B.S.E.N.


I.B.S.E.N. 

de Miguel Castro Caldas

“I.B.S.E.N.” traz o nome do dramaturgo norueguês, mas é um original de Miguel Castro Caldas, que agarra nalgumas situações de peças do autor e as organiza a seu belo prazer, manipulando os textos, por vezes com alguma graça e ironia, por vezes desvirtuando-os. Dizem personagens da peça que Ibsen está velho e os seus textos não são para o público de hoje. Se esse é o pensamento de Miguel Castro Caldas o melhor seria deixar Ibsen em repouso. Este aspecto acho-o, portanto, muito controverso, no mínimo.
Mais discutível ainda é a apoteose final com uma manifestação contra as maiorias, exortando que são as minorias (“os sábios”, como se diz) quem deve dirigir a sociedade. Ora nós sabemos que por vezes as maiorias se enganam, mas temos a certeza de que as minorias erram sempre, para qualquer lado que se voltem. Começa-se logo por duvidar de quem é sábio. Quem o define? Quem é o sábio? O que defende o que nós queremos? Depois, os sábios podem ser historiadores e filósofos que proclamam a hegemonia da raça ariana, um grupo de economistas de superior inteligência que defendem o neo-liberalismo, ou uns iluminados defensores da ditadura do proletariado, temos para todos os gostos. Polémico é, portanto, no mínimo, o espectáculo. Que começa, aliás, com uma orientação curiosa, abordando a vida em família e a situação da mulher, para depois enveredar por caminhos ínvios.
De resto, os intérpretes são excelentes, tão bons que nos custa fazer distinções, mas Sara Carinhas é empolgante, e a encenação de Cristina Carvalhal bem inventiva e saborosa, acompanhada a rigor pela equipa técnica e artística ao seu serviço. Seria um belo espectáculo se….

I.B.B.S.M, de Miguel Castro Caldas; Encenação: Cristina Carvalhal; Cenografia e figurinos: Ana Vaz; Adereços: Stephane Alberto; Desenho de luz: José Álvaro Correia; Desenho de som: Sérgio Delgado; Apoio ao movimento: David dos Santos; Fotografia: Susana Paiva; Produção executiva: Mafalda Gouveia; Interpretação: André Levy, David dos Santos, Inês Rosado, João Lagarto, Luís Gaspar, Manuela Couto, Sara Carinhas, Sílvia Filipe, Stephanie Silva, e ainda Berta Bustorff, Carlos Colaço, Carmo Gelpi, Dora Martinez Pinto, Erica Rodrigues, Irene Sofia Vaz, Maria Angelina Mateus, Maria Helena Falé, Marisa Costa, Miguel Brinca, Miguel Viegas, Rita Pascácio, Sandra Cristina Chambel e Xavier Faria Lopes.

Teatro da Trindade, até dia 14 de Julho. Classificação: M/16 anos. 

3 comentários:

Miguel Castro Caldas disse...

Caro Lauro António: Agradeço muito a atenção que dedicou ao espectáculo i.b.s.e.n e ao trabalho a que se deu a escrever este artigo. Queria só chamar a atenção que o discurso contra as maiorias (tirado de "o inimigo do povo"), não é apresentado como tese nem sequer afirmação do espectáculo. Pensei que isso estava claro. Se não está, fico muito triste. Mas pareceu-me que estava. A maneira como o texto é dito, a maneira como o coro de repente o repete mecanicamente sem atitude crítica, a figura do bêbedo que o interrompe, a interrupção final seguida do escuro e da frase de um dos presentes que diz: "que horror tudo isto" pensei que não deixaria espaço para ambiguidades no que neste aspecto diz respeito. Não se deve acreditar no que dizem todas as personagens. O mesmo em relação a tal personagem que diz que o Ibsen é velho. Não é bem isso que diz, mas mesmo que dissesse, não compreendo por que se deve ser partidário de deixar qualquer clássico descansado. Muita boa noite e prometo não o incomodar mais.

Anónimo disse...

Sempre fui sua fã.
Desta vez, Lauro António, parece-me que não percebeu a peça, ou talvez seja apenas a peça ser muito mais avançada e pôr em causa tudo, mesmo tudo e isso entre em conflito consigo.
'Agarra-se à frase final, esquecendo toda a peça onde se diz exactamente o contrário.

O que a peça toda põe em causa é exactamente o poder e os 'mestres' serem intocáveis.
Pode, deve-se pôr em causa tudo e todos e só depois trilhamos o nosso caminho.

Não se esqueça também, que esta peça foi premiada na Noruega e que foram eles que a subsidiaram.
Assim parece-me que quase tudo dito.

Espero bem que o facto de não estar de acordo consigo não o impeça de colocar este post.
Obrigada.

Maria Francisca Botelho de Andrade

Anónimo disse...

Uaauuu! E viva a Democracia!

Maria Francisca Botelho de Andrade