segunda-feira, fevereiro 13, 2012

CINEMA: A DAMA DE FERRO

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 A DAMA DE FERRO  
Nunca fui um entusiasta de Margaret Thatcher, logo não serei alguém muito próximo deste projecto. Mas, curiosamente, e talvez dando razão ao meu afastamento desta primeira-ministra britânica, “The Iron Lady” parece manter algumas curiosas afinidades entre a política desta “dama de ferro” conservadora e o que está a acontecer presentemente na Europa, governada com mão de ferro por outra dama, esta a alemã Merkel – a defesa de uma política de austeridade em nome do equilíbrio das contas públicas, em ambos os casos caindo sobre os mais pobres e a massa trabalhadora o ónus de pagar a conta. Este é, todavia, um aspecto lateral ao filme em questão, uma obra certamente idealizada para servir de veículo ao trabalho de uma actriz, Meryl Streep, com quem a realizadora Phyllida Lloyd já havia trabalhado na sua película de estreia, a divertida “Mamma Mia!”. Posto isto, deve dizer-se que a interpretação de Meryl Streep é excelente, mas também vos devo dizer, em abono da verdade e para ser honesto comigo mesmo, que já a vi muito melhor, em papéis que deram menos nas vistas. Esta é uma composição de encher o olho, muito bem conseguida é certo, mas nem por isso a melhor da carreira desta fulgurante actriz. Mas uma interpretação vistosa, daquelas a que os votantes dos Oscars não costumam resistir.
Se a interpretação é boa, o resto é uma lástima. A estrutura do argumento, estilo salta-pocinhas, agora presente com a senhora perto da morte, velha, doente, alucinada, logo a seguir jovem empregada de mercearia, promissora deputada, leader dos Conservadores ou Primeira Ministra, não convence pelo artificialismo. Esta técnica do flash-back desaustinado não leva a bom porto. A realização é absolutamente nula, a interpretação da figura histórica inexistente, o jogo de ilusão que se estabelece entre Margaret Thatcher e as suas visões de Dennis, o falecido marido, pouco menos que confrangedor, e o resultado final não anda longe da biografia incompleta, descentrada, melodramática e, por tudo isso, insignificante. Pena ver-se esbanjar tanto talento de Streep numa tal empreitada sem alicerces convincentes. Phyllida Lloyd confirma o princípio de Peter: divertida em “Mamma Mia!”, indigesta em “The Iron Lady”.
A DAMA DE FERRO
Título original: The Iron Lady
Realização: Phyllida Lloyd (Inglaterra, França, 2011); Argumento: Abi Morgan; Produção: François Ivernel, Damian Jones, Adam Kulick, Cameron McCracken, Anita Overland, Tessa Ross, Colleen Woodcock; Música: Thomas Newman;  Fotografia (cor): Elliot Davis; Montagem: Justine Wright; Casting: Nina Gold; Design de produção: Simon Elliott; Direcção artística: Bill Crutcher, Nick Dent; Decoração: Annie Gilhooly; Guarda-roupa: Consolata Boyle; Maquilhagem: Marese Langan; Direcção de Produção: Bobby Prince, Michael Solinger, Sarah Wheale; Assistentes de realização: Chris Foggin, Guy Heeley, Charlie Reed; Departamento de arte: Philip Elton; Som: Nigel Stone; Efeitos especiais: Neal Champion; Efeitos visuais: Angela Barson; Companhias de produção: Film4, UK Film Council, Canal+, CinéCinéma, Goldcrest Pictures, DJ Films, Pathé; Intérpretes: Meryl Streep (Margaret Thatcher), Jim Broadbent (Denis Thatcher), Susan Brown (June), Alice da Cunha (Cleaner), Phoebe Waller-Bridge (Susie), Iain Glen (Alfred Roberts), Alexandra Roach (Margaret Thatcher, em jovem), Victoria Bewick (Muriel Roberts), Emma Dewhurst (Beatrice Roberts), Olivia Colman (Carol Thatcher), Harry Lloyd (Denis Thatcher, em jovem), Sylvestra Le Touzel, Michael Culkin, Stephanie Jacob, Robert Portal, Richard Dixon, Amanda Root, Clifford Rose, Michael Cochrane, Jeremy Clyde, Michael Simkins, etc. Duração: 105 minutos; Distribuição em Portugal: PRIS Audiovisuais; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 9 de Fevereiro de 2012.

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