segunda-feira, abril 18, 2011

CINEMA: RIO

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 RIO 

Carlos Saldanha é brasileiro e assume-se hoje como um dos principais autores de animação dos estúdios norte-americanos Blue Sky, normalmente distribuídos internacionalmente pela Twentieth Century Fox. Ele foi um dos criadores da excelente série “A Idade do Gelo” e agora aparece, individualmente, a assinar “Rio”, um filme que obviamente lhe dirá muito. Objectam os brasileiros contra alguns aspectos do filme e protestam de alguma forma contra a sua tendência exótica, afirmando que ela é “mais uma visão de estrangeiro” sobre o Brasil, com samba, carnaval, futebol, favela, crime e animais excêntricos. Visão de clichés, carregada de chavões. Pois parece-me que sim, mas há que ter em conta que este é um filme para crianças (ou melhor: “para todos os públicos”, o que compreende ser também para crianças) e isso obriga a certas simplificações e reduções. O Brasil não é, obviamente, só este retrato que nos é dado aqui, este é o Brasil que os turistas procuram, o que lhes vendem. Mas este Brasil também existe. Certamente não se esperava um filme para crianças com o Brasil de “Tropa de Elite” ou o Brasil estético e depurado de João Moreira Salles ou de Júlio Bressane. Cada arara no seu galho.
Mas mesmo assim “Rio” não é o grande filme de animação que se podia esperar tendo o Rio de Janeiro como pano de fundo. Obviamente que tem uma cor exuberante e um ritmo vigoroso, é evidente que a animação é impecável, ao bom estilo da casa, é certo que a história tem todos (se calhar demasiados) condimentos para agradar. Vejamos:
O filme abre sobre um nascer do dia no Rio de Janeiro, em vista panorâmica sobre a cidade e a baía, as casas, o mar, a floresta. Com o nascer do dia, esta regurgita de vida. As plantas e as aves movimentam-se livremente até à chegada medonha das redes que aprisionam as aves e as encerram em gaiolas, com destino a terras desconhecidas. Entre os aprisionados, encontra-se Blu, uma arara bebé, de um intenso azul que, juntamente com as irmãs de espécie, lá vai para “Not Rio”, ou seja, o gélido estado de Minnesota, onde, apesar de tudo, tem a sorte de cair nas mãos da bondosa Linda, que o conserva cuidadosamente nos próximos quinze anos. Muito mimado e instruído, por entre livros e ricos pequenos almoços, Blu vive satisfeito da vida, não se importando nada com o facto de nem sequer saber voar. Nunca precisou. Mas um dia aparece Túlio, um ornitólogo que anda em perseguição de Blu para, através dele, tentar preservar a raça das araras azuis. No Brasil existe uma fêmea, única no mundo, de nome Jade, que quer “conhecer” Blu. Eles têm de levar Blu até Jade e esperar que a raça não morra. O que fazem, mas com péssimos resultados: Blu e Jade são apanhados pelo tráfico de animais, levados para as favelas, acorrentados um ao outro, até que conseguem fugir. O filme acompanha as peripécias dessa fuga, e são algumas. Temos, assim, Blu e Jade em fuga, Linda e Túlio a tentarem localizá-los, os traficantes no seu encalço, e o Rio em época de Carnaval com o sambódromo a transbordar de gente para ver a banda passar. Tudo isso e os macaquinhos ladrões e o falcão malvado e os amigos dos perseguidos tentando ajudá-los. História de amor que começa mal e acaba em “happy end” (faz lembrar os encontros da parelha Fred Astaire-Ginger Rogers), filme de aventura e perseguições com uma ave que não sabe voar acorrentada a uma intrépida moçoila, animal domesticado que não se adapta já à vida natural, metáfora ambientalista “politicamente correcta”, musical sambado em homenagem a Carmen Miranda, passeio turístico pela bela e romântica “cidade maravilhosa” (está lá tudo, o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar, os arcos da Lapa com os ónibus a passar, as favelas, a já citada baía da Guanabara, a floresta da Tijuca, a avenida Atlântica, os desfiles no sambódromo, etc.), enfim “Rio” é um pouco de tudo isso, mas diverte, os miúdos gostam e os pais não se aborrecem. Apesar de muito musicado, nem por isso é muito feliz, com a partitura de John Powell (que conta com colaborações especiais de Carlinhos Brown e Sérgio Mendes). Não é, todavia, o grande filme que o Rio merece. 

RIO
Título original: Rio
Realização: Carlos Saldanha (EUA, 2011); Argumento: Carlos Saldanha, Don Rhymer; Produção: Bruce Anderson, John C. Donkin; Música: John Powell; Fotografia (cor): Renato Falcão; Montagem: Harry Hitner; Decoração: Melanie Martini; Direcção de Produção: Jacob Carlson, Gina Grasso, Mark Jacyszyn;  Departamento de arte: Nash Dunnigan, Rachel Tiep-Daniels; Som: Randy Thom; Efeitos visuais: Heather Brown, Taylor Shaw, Doug Spilatro; Animação: Nick Bruno, John E. Hurst, Sergio Pablos, Jason Sadler, Joshua Spencer, etc. Companhias de produção: Blue Sky Studios, Twentieth Century Fox Animation; Intérpretes (vozes originais): Jesse Eisenberg (Blu), Anne Hathaway (Jewel), Leslie Mann, Rodrigo Santoro, Wanda Sykes, Jane Lynch, Jamie Foxx, Will.i.Am, Bernardo de Paula, Carlos Ponce, Jake T. Austin, Thomas F. Wilson, George Lopez, Bebel Gilberto, Judah Friedlander, Tracy Morgan, Karen Disher, Jason Fricchione, Sofia Scarpa Saldanha, Kelly Keaton, Gracinha Leporace, Phil Miler, Carlos Saldanha, Renato D'Angelo, Jeffrey Garcia, Davi Vieira, Jemaine Clement, Cindy Slattery, Justine Warwick, Miriam Wallen, Tracy Morgan, Sergio Mendes, etc. Duração: 96 minutos; Distribuição em Portugal: Castello Lopes Multimédia; Classificação etária: M/ 6 anos; Estreia em Portugal: 14 de Abril de 2011.

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