quarta-feira, janeiro 19, 2011

CINEMA: O TURISTA E ANTHONY ZIMMER

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 O TURISTA
E “ANTHONY ZIMMER
 
Ora bem, cá vou eu desafiar a opinião dominante. “O Turista” tem sido demolido pela maioria da crítica. Eu vi e gostei. Foi um filme que me deu especial prazer ver, não como uma obra essencial na história do cinema, mas como um divertimento ou/e entretenimento inteligente, engraçado, gostoso, bem interpretado, rodado com cuidado, fotografado com sofisticação numa Veneza de luxo, como há muito não via. Por tudo isso, foram duas horas bem passadas, a bordo de um conto de fadas, com um cheirinho a 007, outro a “Ocean's Eleven”. Nada de muito denso ou particularmente propenso ao pensamento profundo, mas o cinema também é isto, um filme que se consome como uma taça de champanhe, borbulhante e vistosa.

Muitos caíram em cima do alemão Florian Henckel von Donnersmark, o realizador que nos dera o excelente pesadelo ambientado na RDA, "As Vidas dos Outros", revelação de um cineasta e de uma sociedade concentracionária, controlada pela famigerada STASI. Foi Óscar de melhor filme em língua não inglesa e catapultou o autor para a glória e para Hollywood. Agora trocou o pesadelo pelo sonho, ainda que não tenha abandonado os ambientes das intrigas internacionais onde o indivíduo pouco conta. Mas a forma ligeira como aborda o tema, roçando a comédia, um tipo de comédia romântica atravessada pela aventura e o mistério, com golpes de cintura a cada passo, parece que deixou muitos incomodados. Pela minha parte gostei, diverti-me bastante, achei magnífica a paródia da estonteante “vamp” que nos oferece a belíssima Angelina Jolie e do americano parolo construído pelo desconcertante Johnny Deep. As filmagens aéreas de Veneza são fabulosas, o ritmo da aventura é compassado, saboreado, inspirador. Tudo é pura fantasia, por vezes parece “desenho animado”, mas o pretendido é isso mesmo, caricatura, paródia, divertimento. Luxuoso, bem paramentado, em cenários de maravilha, majestosos quartos de hotéis, canais à luz do luar, correrias loucas de TGV entre Paris e Veneza, esplanadas e restaurantes que fazem sonhar.  Cinco estrelas, luxo.
O argumento, assinado pelo próprio Florian Henckel von Donnersmarck, de colaboração com Christopher McQuarrie, Julian Fellowes, segundo história de Jérôme Salle (que escrevera e realizara, em 2005, em França, "Anthony Zimmer", com a mesma história), é engenhoso: Elise Clifton-Ward (Angelina Jolie) anda a ser vigiada pela Scotand Yard que julga que ela os conduzirá até Alexander Pierce, um talentoso ladrão de alta-roda que roubara para cima de 2 biliões de dólares a um mal-encarado gangster da máfia russa, sem pagar os respectivos impostos. Alexander Pierce deixa uma mensagem a Elise para esta ir ao seu encontro em Veneza, pedindo-lhe, entretanto, para engatar alguém parecido com ele que possa enganar as autoridades. Ela assim faz e facilmente seduz Frank Tupelo (Johnny Depp), um professor de matemática que viaja no mesmo TGV. Em Veneza mantém o equívoco e Frank é tomado por Alexander Pierce, quer pela polícia, quer pelo gang do russo traído. O resultado faz lembrar, por vezes, “A Pantera Cor-de-Rosa”, sem cair no burlesco. Timothy Dalton, um ex-007, é aqui um circunspecto inspector-chefe, para a brincadeira ser total.
Claro que não é uma obra-prima, julgo que nem o pretendia ser. Mas o que ambicionava ser, consegui-o plenamente. De 0 a 5, 3 estrelas.
Mas lá que os argumentistas americanos andam com falta de inspiração, isso é verdade. Lado a lado, nas salas de Lisboa, dois filmes que se inspiram em originais franceses, nenhum deles uma obra de referência obrigatória, apesar de terem ambos imaginosos guiões. Depois de “Nathalie”, agora foi a vez do “remake” de “Anthony Zimmer”, obra de 2005, assinada por Jérôme Salle.  ~

Neste filme, Anthony Zimmer é um especialista em branquear dinheiro, por isso mesmo muito procurado. Quer pela polícia, aqui chefiada por Akerman (interpretado por um recuperado Sami Frey), quer pelo gang de mafiosos que enganou. A mulher bonita é agora Chiara (uma esplendorosa Sophie Marceau), que, a bordo de um TGV, desta feita a caminho de Cannes, seduz, com os mesmos propósitos, um tradutor de textos técnicos, o atarantado François Taillandier (Yvan Attal). O resto não difere muito de “O Turista”, nem nas peripécias, nem nos propósitos, nem nos resultados.
Jérôme Salle é, sobretudo, conhecido como argumentista, mas com esta sua estreia na longa-metragem como realizador ganhou um César (os Oscars franceses). Não se pode afirmar que tenha ficado para a história e devo dizer que prefiro a versão norte-americana, muito embora os actores sejam bons e o Carlton, em Cannes, tenha uma vista fabulosa. Os diálogos são bem construídos. O “lay-out” do filme tem algum charme, mas não chega a champanhe. Este fica-se pelo espumante. O que para um produto francês, quer dizer alguma coisa.

O TURISTA
Título original: The Tourist
Realização: Florian Henckel von Donnersmarck (EUA, França, 2010); Argumento: Florian Henckel von Donnersmarck, Christopher McQuarrie, Julian Fellowes, segundo Jérôme Salle ("Anthony Zimmer"); Produção: Gary Barber, Roger Birnbaum, Jonathan Glickman, Ron Halpern, Tim Headington, Graham King, David Nichols, Denis O'Sullivan, Lloyd Phillips; Música: James Newton Howard; Fotografia (cor): John Seale; Montagem: Joe Hutshing, Patricia Rommel; Casting: Susie Figgis; Design de produção: Jon Hutman; Direcção artística: Susanna Codognato, Marco Trentini; Decoração: Anna Pinnock; Guarda-roupa: Colleen Atwood; Maquilhagem: Frédérique Arguello, Karen Asano-Myers, Giorgio Gregorini, Toni G, Joel Harlow, Colin Jamison; Direcção de Produção: Laura Cappato, Lilia Cioccarelli, Francesco Marras, Lisa Rodgers, Gregor Wilson; Assistentes de realização: Steve E. Andrews, Jonny Benson, Consuelo Bidorini, Mathilde Cavillan, Aurore Coppa, Gil Kenny, Guilhem Malgoire, Alberto Mangiante, Barbara Pastrovich; Departamento de arte: Stéphane Cressend, Claudio Magrini, Heather Pollington; Som: Ann Scibelli; Efeitos especiais: Stefano Corridori, Jeremy Lovett, Dominic Tuohy; Efeitos visuais: Erik Courtney, Zack Fox, Andrew Lewitin, Ted Rae; Companhias de produção: GK Films, Spyglass Entertainment, Studio Canal; Intérpretes: Johnny Depp (Frank Tupelo), Angelina Jolie (Elise Clifton-Ward), Paul Bettany (Inspector John Acheson), Timothy Dalton (Inspector chefe Jones), Steven Berkoff (Reginald Shaw), Rufus Sewell, Christian De Sica, Alessio Boni, Daniele Pecci, Giovanni Guidelli, Raoul Bova, Bruno Wolkowitch, Marc Ruchmann, Julien Baumgartner, François Vincentelli, Clément Sibony, Jean-Claude Adelin, Jean-Marie Lamour, Nicolas Guillot, Mhamed Arezki, Igor Jijikine, Vladimir Orlov, Vladimir Tevlovski, Alec Utgoff, Mark Zak, Neri Marcorè, Gabriele Gallinari, etc. Duração: 103 minutos; Distribuição em Portugal: Columbia TriStar Warner Filmes de Portugal; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 6 de Janeiro de 2011.

ANTHONY ZIMMER
Título original: Anthony Zimmer
Realização: Jérôme Salle (França, 2005); Argumento: Jérôme Salle; Produção: Olivier Delbosc, Eric Jehelmann, Marc Missonnier, Alain Terzian; Música: Frédéric Talgorn; Fotografia (cor): Denis Rouden; Montagem: Richard Marizy; Casting: Brigitte Moidon; Design de produção: Laurent Piron; Decoração: Yannick Heuveline; Guarda-roupa: Carine Sarfati; Maquilhagem: Nurith Barkan, Guillaume Castagné, Gérald Porcher; Direcção de Produção: Julie Léger, François Pascaud, Eric Zaouali ; Assistentes de realização: Euric Allaire, Gabriel Levy, Colombe Savignac; Departamento de arte: Benoit Godde, Patrice Golardelle; Som: Hervé Roux, Didier Saïn, Pascal Villard; Efeitos especiais: Georges Demétrau, Sara Helminger, Christophe Messaoudi; Efeitos visuais: Alain Carsoux, Séverine De Wever; Companhias de produção: Alter Films, Canal+, Fidélité Productions, TF1 Films Production; Intérpretes: Sophie Marceau (Chiara Manzoni), Yvan Attal (François Taillandier), Sami Frey (Akerman), Gilles Lellouche (Müller), Daniel Olbrychski (Nassaiev), Samir Guesmi (Driss), Dimitri Rataud (Perez), Nicky Marbot, Olivier Chenevat, Alban Casterman, Christophe Odent, Luc Chavy, Richard Delestre, Yann de Monterno, Laurent Klug, José Fumanal, Thierry Humbert, Marc Diabira, Alain Figlarz, Yves Penay, Olivier Brocheriou, Frédéric Vaysse, Christophe Mahoudeaux, Arnaud Duléry, Aurélien Jegou, etc. Duração: 90 minutos; Distribuição em Portugal: Atalanta Filmes; Classificação etária: M/ 16 anos; Estreia em Portugal: 20 de Outubro de 2005.

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