sábado, julho 10, 2010

FESTIVAL DE TEATRO DE ALMADA, NOTAS, 1

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ALDINA DUARTE POR OLGA RORIZ
Surpreendente espectáculo este que reúne Aldina Duarte e Olga Roriz, em “Aldina Duarte por Olga Roriz”. De Aldina Duarte devo dizer que há anos que gosto da voz e da emoção, e dessa forma peculiar e pessoal de cantar o fado. É uma das vozes novas do fado em Portugal que me seduz.
Um concerto de Aldina Duarte em pleno Festival de Teatro de Almada, por que não?
Mas a encenação de Olga Roriz transforma por completo os dados da questão. “Aldina Duarte por Olga Roriz” não é um concerto de Aldina Duarte, o que já de si seria de não perder, mas um espectáculo de fado, encenado de forma magnífica com uma sensibilidade e apuro de tom notáveis. Olga Roriz acerta em cheio na sua proposta. Um palco quase vazio, uma estrutura metálica ao fundo e dos lados, por onde podem correr cortinas castanhas, ao fundo meia dúzia de sofás para os músicos esperarem quando não estão em função, meia dúzia de cadeiras dispersas pelo palco, com focos de luz preparados para se iluminarem quando for o caso disso, e depois é a coreógrafa que funciona, encadeando movimentos e sons, voz e luz. Um piano inicia a caminhada. São doze fados, alguns mais tradicionais, onde se encontram a voz de Aldina Duarte e a viola e a guitarra, mas outras vezes a voz da fadista confronta-se com outros sons, pouco habituais ou completamente inesperados para um fado, como a harmónica, a concertina, a harpa, o piano ou a percussão.
O que prende é essa viagem iniciática de Aldina Duarte por um palco, pelo mundo, em busca de novos e velhos sons. Ela caminha em direcção a cada luz, encontra a seu lado um novo companheiro de viagem, e parte decidida à descoberta. São momentos inesquecíveis, uns pelo ajuste, outros pela dissonância, é o fado português a cruzar-se com outras ambiências sonoras e a manter a sua autenticidade. Sobre este espectáculo a coreógrafa afirma: “Porque me interessam os desafios que me lançam à descoberta e abrem caminhos inesperados, o meu primeiro impulso foi o de me debruçar sobre uma proposta musical para este concerto. Foi assim que me surgiu a ideia de propor à Aldina Duarte um encontro do fado com instrumentos que lhe são estranhos.” A ideia é excelente, o resultado brilhante. Ao que não é estranho um desenho de luzes perturbante e sedutor, intimista e espectral, sombras e silhuetas, evocação de ruelas e de becos, de tabernas e de casas de fado que se imaginam sem nunca serem indiciadas.
“Aldina Duarte por Olga Roriz”
Direcção e concepção musical de Olga Roriz; Intérpretes: Voz: Aldina Duarte; Músicos: Guitarra portuguesa: José Manuel Neto; Viola: Carlos Manuel Proença; Contrabaixo: Pedro Wallenstein; Piano: Manuel Paulo; Acordeão: João Lucas; Harmónica: Gonçalo Sousa; Percussão: Sebastian Scheriff; Harpa: Ana Isabel Dias; Consultoria musical Manuel Paulo; Espaço cénico: Pedro Santiago Cal; Desenho e operação de som: Francisco Leal; Desenho de luz Cristina Piedade; Duração: 1 hora; Classificação M/ 3; São Luiz, Teatro Municipal. Estreou a 9 de Julho, continua a 10, 16 e 17. A não perder.

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