quarta-feira, outubro 31, 2007

MANUEL MACHADO DA LUZ

Evocação de
Manuel Machado da Luz

Numa meritória organização do ABC Cine Clube de Lisboa, foi levada a cabo uma “Evocação de Manuel Machado da Luz”, durante este mês de Outubro, com sessões na Cinemateca Portuguesa, onde foram apresentados algumas das obras que Machado da Luz mais apreciava, como “A Parada dos Monstros” (Freaks), de Tod Browning, “América -Terra de Esperança” (An American Romance), de King Vidor, “Humberto D” (Umberto D), de Vittorio De Sica ou “A Passageira” (Pasazerka), de Andrzej Munk (concluído por Witod Lesiewicz), ao lado de “A Santa Aliança” e “Saudades para D. Genciana”, ambos de Eduardo Geada, onde o antigo cine-clubista e arquitecto de formação colaborou na escrita do argumento. A selecção é muito restrita e fica-se com uma ideia dos gostos de Manuel Machado da Luz muito deficiente. Faltam as grandes paixões, de Visconti a Orson Welles, de Eisenstein a alguns americanos, mas fica a ideia que é de louvar.
A homenagem encerrou, ontem, com um colóquio na Sociedade Nacional de Belas Artes, onde um painel composto por David Mendes Lopes, Eduardo Geada, Maria Teresa Horta e Manuel Neves abordou as diferentes facetas da vida e da obra deste cinéfilo precocemente desaparecido (1943-1997).

Lá estive. Ambos éramos filhos de pintores que tinham sido amigos e companheiros (Machado da Luz e Lauro Corado), ambos fizemos percursos muito próximos, com algumas divergências ideológicas pelo meio (ele sempre fiel à ortodoxia do PC, eu sempre fiel à liberdade e à procura da justiça social no seu interior). Ambos estivemos no cine-clubismo de alma e coração, sobretudo durante longos anos no ABC Cine Clube de Lisboa (ambos fomos vogais de presidências diversas, ambos fomos vogais, ou coisa semelhante, de presidências de um e de outro). Ambos tínhamos paixões muito semelhantes, o cinema, os livros, a escrita, a discussão apaixonada, as questões sociais, a política, a luta contra a ditadura, a procura de tempos melhores.

Fomos amigos, apesar dessas divergências de fundo, mas Manuel Machado da Luz era um convicto puro nos seus ideais, e por isso sempre o respeitei. Por isso lhe fui ontem dar um grande abraço e recordá-lo, a ele e aos amigos cine-clubistas que tanto ajudaram na minha formação, apesar de não terem conseguido catequizar-me por completo. Até nisso foram importantes - ajudaram-me a escolher o meu caminho. Mas, com visões do mundo diferentes, o nosso convívio foi essencial e nunca me fez mal ler Lukacs ou Aristarco. Nem Marx e Lenine. Muito pelo contrário.
Um abraço a todos, e já agora: por que não uma urgente (cada vez mais urgente!) história do cine-clubismo em Portugal? Foi um movimento importantissimo e os testemunhos directos começam a rarear.

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